A força eletrostática e a lei de Coulomb
Além das famosas três leis da Mecânica, Newton mostrou que a força que mantém a Terra orbitando em torno do Sol, da Lua orbitando em torno da Terra, da maça caindo próxima à superfície da Terra, todas elas tem uma mesma origem: a força gravitacional. Segundo a lei de gravitação universal de Newton, duas massas puntifomes, e , separadas por uma distância , sofrem uma atração mútua, dada por
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Na linguagem matemática é um vetor unitário (módulo igual a 1) que diz que essa força está na direção que as duas massas. O sinal negativo diz que a força em questão é atrativa.
é a chamada constante universal da gravitação. Por “universal”, que dizer que não depende da Natureza das massas; ela é igual para todas as massas.
A força gravitacional é uma das forças fundamentais da Natureza.
Existem outras forças ditas fundamentais da Natureza? Na verdade hoje acreditamos que existem mais três: além da força gravitacional, existe a força eletromagnética, a força fraca e a força forte.
As duas últimas forças são de curtíssimo alcance e portanto são importantes somente em processos atômicos e subatômicos (por exemplo, a força fraca é responsável pelo decaimento do nêutron livre).
A força eletromagnética é uma combinação das forças elétrica e magnética. Nesta página vamos nos focar somente na força elétrica devido a cargas em repouso ou que não estejam muito aceleradas, situação em que descreveremos como um sistema estático ou estacionário.
Na situação eletrostática, a força elétrica é conhecida também como força coulombiana, em homenagem ao cientista francês Charles A. Coulomb.
A lei que leva o seu nome diz que duas cargas puntiformes, e , separadas por uma distância , sentem uma força dada por
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onde é uma constante também universal, ou seja, não depende da Natureza das cargas elétricas.
É interessante observar que a equação acima é muito parecida com a equação (1). Só precisamos fazer as correspondências
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Mas há uma diferença fundamental entre as duas forças. Enquanto que na Natureza há somente um “tipo” de massa, cargas elétricas vêm em dois tipos: convencionamos chamá-las de carga positiva e carga negativa. Com isto, a força coulombiana pode ser atrativa (cargas opostas) ou repulsiva (cargas de mesmo tipo).
Se separarmos dois prótons a uma certa distância , qual deve ser a razão entre a força eletrostática e a força gravitacional?
Como ambas as forças dependem do inverso do quadrado da distância [veja equações (1) e (2)], a razão dá
Sabendo-se que a massa do próton é e a sua carga é e que
no sistema internacional de unidades, temos que
Ou seja, a força eletrostática é muitíssimo maior do que a gravitacional.
Mas ainda bem que o Universo é um lugar mais ou menos neutro eletricamente, ou seja, a carga resultante é zero. Caso contrário, se tivéssemos só um tipo de carga, jamais seria possível formar planetas, estrelas, galáxias e todos os aglomerados de matéria, pois a força gravitacional seria insignificante dianta da força eletrostática repulsiva.
No entanto, como a matéria é praticamente neutra, a atração gravitacional dá origem às grandes estruturas do Universo.
Por outro lado, forças eletrostáticas são fundamentais na escala microscópica. Embora o modelo atômico vigente, descrito pela Mecânica Quântica, é incompatível em muitos aspectos ao modelo semiclássico como o átomo de Bohr, é bastante instrutivo pensar num modelo “planetário” para o átomo, onde elétrons em determinados orbitais giram em torno do núcleo formado por nêutrons e prótons.
Aqui abrimos um parêntesis para fazer um brainstorm: o que mantém os prótons coesos no núcleo, pois deveria haver repulsão entre eles? O que mantêm os nêutrons no núcleo, se eles são eletricamente neutros?
Prosseguindo, dá para se estabelecer um paralelo do modelo planetário com o modelo semiclássico do átomo. Enquanto no primeiro caso, a força gravitacional é a responsável pelas órbitas dos planetas, no segundo, é a força eletrostática (cargas estão sendo aceleradas, mas os postulados de Niels Bohr “cuidam” desses detalhes).
Para ambas as forças, surge uma questão curiosa: de que forma uma massa “sente” a presença de uma outra massa? Similarmente, como uma carga “sente” a presença da outra?
Na figura dos planetas orbitando o Sol, que “coisa” comunica a um planeta que o Sol está lá e vice-versa? Afinal, se o Sol desaparecer de repente, os planetas sairiam das suas órbitas!
Chamamos essa “coisa” de campo. Temos assim o campo gravitacional e o campo elétrico, onde discutiremos em maiores detalhes a seguir.
O Campo Elétrico
Assim como ocorre com as massas e a força gravitacional, como exatamente corpos e cargas elétricas interagem?
Não vemos nenhum tipo de contato entre, por exemplo, a Terra e uma maça que cai em sua direção. Também não ocorre o contato físico entre as cargas para existir a força elétrica, dada pela lei de Coulomb.
Num curso de Mecânica, introduzimos o conceito de aceleração da gravidade para descrever o movimento de queda de um corpo próximo à superfície de um planeta (especificamente a Terra). O objeto cai porque existe a força de atração objeto-Terra. Por aceleração da gravidade, entendemos que se trata da aceleração adquirida pelo corpo se desprezada a resistência do ar. Vejamos como ela surge.
A força entre a Terra e o corpo é dada pela lei da gravitação universal de Newton [equação (1)]. É importante observar que a equação (1) pode ser facilmente adaptada para objetos extensos, em particular para uma esfera cuja densidade de massa só dependa da distância até o seu centro. Se essa é a força resultante sobre o corpo, a segunda lei de Newton afirma que
onde e são, respectivamente, a massa e o raio da Terra e a altura em relação à superfície da Terra. Próximo à superfície da Terra, (altura é muito menor do que o raio da Terra) e portanto
Logo, a aceleração é . Por outro lado, temos que próximo à superfície da Terra, a força sobre um objeto de massa , dada pela equação (1) se torna
Usando a notação vetorial, temos que
Encontramos a “coisa” que estávamos procurando: é , que se chama campo gravitacional da Terra (neste caso, próximo à sua superfície). Em qualquer região ,
onde denota que o campo gravitacional é radial e aponta para o centro da Terra. É claro, a massa também produzirá um campo gravitacional, que a Terra e todos os objetos massivos, irão sentir.
Mas afinal, o que é campo gravitacional? Está presente no espaço, mas não a vemos. Nós sentimos o seu efeito da seguinte forma: determine a força (gravitacional) que age num objeto de massa (módulo, direção e sentido). Divida essa força por e assim terá o campo. Dizemos que o campo gravitacional é o mediador da interação gravitacional. Qualquer coisa além disto, caimos numa discussão metafísica de campo.
Se fizermos a substituição da massa pela carga elétrica, nós obtemos algo que chamamos de campo elétrico. Para um sistema formado pelas cargas e , separadas por uma distância , temos pela lei de Coulomb que a força sobre a carga é
Analogamente à definição de , se dividirmos a força sobre pela própria carga , obtemos o termo entre parêntesis acima, que é precisamente o campo elétrico gerado pela carga na posição onde se encontra :
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O campo elétrico, assim como o campo gravitacional, possui intensidade, direção e sentido, o que faz dele uma grandeza vetorial.
Representaremos o campo elétrico usando o que chamamos de linhas de campo. Elas são um pequeno número das possíveis infinitamente numerosas linhas que indicam o sentido e a direção do campo elétrico. O campo elétrico num determinado ponto é tangente à linha de campo.
Abaixo temos as linhas de campo representando o campo elétrico de uma carga positiva. As linhas são radiais apontando para fora. O campo elétrico também será radial, apontando para fora.
No caso da carga negativa, as linhas de campo são igualmente radiais, mas apontam para dentro. Logo, o campo elétrico também será radial e apontará para a carga.
Quando duas cargas elétricas de sinais opostos são colocadas próximas, seus campos elétricos passam a interagir, criando em suas proximidades uma configuração diferente da que observamos quando tais cargas encontra-se isoladas. O campo resultante é a soma (vetorial) dos campos de carga positiva e negativa.
No simulador disponível abaixo, você pode testar diferentes configurações de cargas elétricas, e observar as mudanças sofridas no espaço em torno das cargas elétricas.
Campo elétrico de uma distribuição de cargas
No Ensino Médio, só se calculam campos elétricos devido a uma distribuição discreta de cargas (cargas puntiformes). O campo elétrico resultante é a soma (vetorial) de todos os campos gerados pelas cargas puntiformes num determinado ponto do espaço. Achar o campo resultante torna-se assim, um problema de soma de vetores, cujo conhecimento de geometria ajuda bastante. Um exemplo comum é colocar uma determinada carga em cada um dos vértices de um retângulo e pedir o campo elétrico resultante em algum ponto do espaço (num vértice, no centro do retângulo, etc.)
Para essas distribuições, a determinação do campo elétrico resultante num ponto não é um problema desafiador. O que pode ser desafiador, mas que não está no escopo do Ensino Médio, é a obtenção do campo elétrico de uma distribuição contínua de carga. Por exemplo, qual seria o campo elétrico de uma barra delgada uniformemente carregada? E o campo de uma esfera metálica, cuja carga total se concentra inteiramente na sua superfície?
Esse questionamento também surge para o cálculo do campo gravitacional de objetos extensos. Por exemplo, se ao invés da Terra ser uma esfera, se fosse chata, como deveria ser o seu campo gravitacional? Como é o campo gravitacional dentro da superfície da Terra?
Na Física, há uma receita muito simples para esse tipo de configuração de carga. Vamos ilustrá-la com um exemplo; o cálculo do campo elétrico de um fio carregado e muito longo. Vamos denotar por a densidade linear de carga (quantidade de carga elétrica por comprimento do fio) .
Até aqui, vimos que o campo elétrico devido a uma carga puntiforme é dado pela equação (4). Por comodidade, vamos repeti-lo aqui:
Localizado a uma distância que chamaremos de acima desse fio, existe um ponto P. Nosso objetivo é calcular o campo elétrico no ponto P gerado por essa distribuição de carga no fio.
Vamos supor que o fio se encontra sobre o eixo . Tomamos um pedaço pequeno no fio, que na figura acima está pintado de vermelho. Chamemos esse tamanho de . Nesse pedaço, a quantidade de carga presente é
Aqui não tem conotação usual de “diferença”, ou seja, final menos inicial de uma certa grandeza. Se , o pedaço se colapsa num ponto e portanto a equação (4) é válida:
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O campo acima só vale para um pedaço pequeno do fio, naquela posição específica. Como o fio é formado praticamente por uma quantidade muito grande desses pedaços pequenos e que para cada pedaço pequeno a equação (5) é válido, o campo resultante em P é a soma (vetorial) de cada um dos campos :
Na linguagem do cálculo, no limite , faremos , e o campo passa a ter um valor infinitesimal (muito pequeno) e o denotaremos por d\vec{E} (veja direção e sentido desse campo). Quando isso ocorre, a soma é substituída pela integral e os pontos discretos passam a ser contínuos:
Um detalhe muito importante de integral é que ela é uma soma. E como estamos somando vetores , cuja direção muda conforme o muda (o pedaço pequeno em vermelho no fio), é preciso tomar cuidado na hora de realizar a integral.
Para ver os detalhes técnicos e como resolver a integral, clique em “Abrir Dedução Matemática”.
O campo elétrico gerado por um fio de comprimento infinito num ponto P distante , será dado por
Esse resultado obtido para o valor do campo elétrico gerado no espaço para um fio infinito, mostra um campo elétrico que cai com o inverso da distância. No caso de um campo gerado por uma carga pontual, como sabemos, o campo diminui com o quadrado do valor da distância.
É interessante notar que os campos estão intimamente relacionados com o espaço, e são invariáveis. Perceba que essa campo é calculado a partir de um referencial que está em repouso com relação ao fio. Iremos estudar a o caso do campo elétrico calculado a partir de um referencial que se movimenta com relação ao fio. Estudaremos assim sua invariabilidade com relação às transformações de Lorentz.