O problema sugerido a seguir é um bom exemplo ilustrativo que nos ajuda a pensar num tema que tem sido bastante recorrente de uns anos para cá, e cada vez mais pertinente. Viajens espaciais.
O homem deu o pontapé para a exploração espacial há cerca de 60 anos com o lançamento de satélites e posteriormente de veículos tripulados.
Viagens espaciais tem um alto custo que está associado também ao tempo de viagem. Assim quanto maior a velocidade de um veículo espacial, menos tempo ele levará para alcançar seu destino.
Além das limitações tecnológicas atuais, a teoria da relatividade prevê uma impossibilidade natural para o aumento de velocidade de um corpo quando esse corpo se aproxima da velocidade da luz. Sabemos que a energia e portanto a força que deve ser usada para acelerar tal corpo, depende do fator de Lorentz.
Vajamos então um problema prático que nos permite pensar nesses aspectos e em outros.
O próton de maior energia detectado até hoje nos raios cósmicos possuía a espantosa energia cinética de eV (energia suficiente para elevar em alguns graus Celsius uma colher de chá de água).
(a) Determine o fator de Lorentz e a velocidade da partícula em relação à Terra.
Como sabemos a energia cinética do próton, vamos olhar para a relação dela com o fator de Lorentz
Como vimos
Isolando
Substituindo pelos valores
Se com esse resultado tentarmos obter analiticamente o valor da velocidade vamos ter um problema, pois para um fator de Lorentz tão grande o termo , e portanto chegaremos em . Contudo queremos um valor mais preciso para , e para isso vamos usar de um pequeno artifício matemático extraindo o valor de () da expressão .
O termo () pode ser arredondado para 2, porém não podemos arredondar a diferença entre dois números.
Assim,
Elevando os dois lados da equação ao quadrado
Como
O valor de v é um número muito próximo de c, mas ainda menor
Esse resultado está de acordo com o que estudamos até agora em relação à energia e a velocidade de um objeto. Possuindo ele massa de repouso diferente de zero, será preciso cada vez mais energia para que o próton ganhe mais velocidade. Como vimos, existe uma impossibilidade de se atingir a velocidade da luz por conta da energia que ele precisaria para tal.
Seguindo com nosso problema, o próximo item nos faz observar o tempo de deslocamento em dois referenciais distintos, o da Terra e o do próton ultra-relativístico.
(b) Suponha que o próton tenha percorrido uma distância igual ao diâmetro da Via Láctea ( anos-luz). Quanto tempo o próton levou para cobrir essa distância do ponto de vista do observador terrestre?
Como o próton viaja com uma velocidade extremamente próxima da velocidade da Luz, ele leva um tempo medido pelo observador terrestre praticamente igual, portanto
(c) Quanto tempo leva essa travessia a partir do referencial do próton?
Sabemos que o tempo medido no referencial do próton deve ser diferente, e para calcularmos utilizaremos a expressão que relaciona o tempo nos dois referenciais
Multiplicando o tempo em anos, pela quantidade de segundos de um ano, obtemos
Um resultado espantoso que mostra de maneira extrema a diferença da passagem do tempo em dois referenciais distintos.
No início da página falamos sobre viagens espaciais. Com o resultado que obtivemos já podemos atribuir mais uma variável ao assunto. Se em algum momento da história futura da humanidade o homem for capaz de viajar próximo à velocidade da luz, uma viagem até outras galáxias poderia durar alguns anos ou ainda alguns meses no referencial do viajante. Assim viajar por um espaço tão vasto como o nosso levaria muito tempo quando visto do nosso referencial. Para aqueles que viajam bastante rápido, o efeito prático visualizado por eles seria a contração do espaço pelo qual viajam, o que causaria uma diminuição no tempo de viagem.